segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

VÉSPERA DE NATAL DE 2016 E A MACONHA ESTÁ LIBERADA

Para fechar com chave de ouro o fatídico ano de 2016 o cirurgião resolveu fazer a cirurgia de retirada do cateter. Quando cheguei de viagem voltei no cirurgião dizendo que estava de saco cheio da trombose e ele decidiu tirar o cateter, já que este último era o grande culpado.

Véspera de Natal lá fui eu para o hospital, de novo. A diferença é que essa cirurgia foi bem pequena e me trataram bem no hospital, quase o tempo todo.

Após umas 3 horas de espera e umas 9 horas de jejum me levaram para o centro cirúrgico, a seco novamente, sem drogas sublinguais. Dessa vez seria somente uma sedação com anestesia local, mas mesmo assim não é das coisas mais agradáveis passear deitada numa maca pelo hospital olhando o teto totalmente sóbria.

Chegando lá aquelas perguntas, meu nome, o que eu vou operar,quem é meu médico etc. E mesmo assim lembro que quase me colocaram na sala errada.

- ué, não é sala 7, cirurgia no cérebro?
- não, não, é uma retirada de cateter, sala 1...
- ahh bem...

Essa é uma vantagem de estar sóbria, pelo menos não tem chance de te colocarem na cirurgia errada.

Chegando na sala certa eu vi meu cirurgião, que começou a reclamar com o anestesista que tinha um daqueles suportes de braço atrapalhando ele. Não sei se é aquela posição deitada, ou se é o fato de estar sóbria mesmo, mas aquela sala parece uma zona. Começam a mexer em vc, tiram aquela sua camisola. Você fica praticamente nua em cima daquela tábua, como se fosse um pedaço de carne de segunda que será literalmente fatiado. É uma sensação humilhante. O anestesista começou a me furar para achar uma veia enquanto o cirurgião tentava conversar comigo que tinha encontrado minha mãe no shopping. É claro que eu não conseguia responder a nada. É tipo no dentista, qualquer pergunta que ele faça é somente uma pergunta retórica, já que você não pode responder mesmo.

Depois de me furar, o anestesista colocou o respiradouro e disse que eu ia dormir em pouco tempo. Daí eu lembro que reclamei:

- mas eu não estou dormindo ainda...
- calma, vai dormir...
- eu não entendo por que não dão mais aqueles comprimidos sublinguais para a gente.
- é porque eles demoram a fazer efeito e depois você fica tão ruim que não consegue sair do hospital no mesmo dia... Só dão quando é cirurgia grande que vai para a UTI.
- ahhhhhh, mas eu não pude tomar nem na minha cirurgia grande...
- (anestesista pensando ..... "Foda-se")
- (o cirurgião para mim) - já está ficando mais tonta?
- Ahhhhh, agora eu tô ficando bem melhor.... Eu queria saber também se eu posso fumar maconha... Não agora, claro... Depois...
- pode sim, a maconha tá liberada...

Daí em diante não me lembro mais de nada...

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

E A TROMBOSE CONTINUA


Os médicos haviam me dito que o trombo diminuiria ou, na pior das hipóteses, ficaria do mesmo tamanho, já que eu tomo anticoagulante. Doce ilusão, o meu aumentou. Daí os médicos dizem, "mas eu nunca vi uma coisa dessas, é a primeira vez..." E vêm com uma explicação científica...

Minha cara de buldogue começou a piorar e eu reclamei com a médica. Ela me mandou fazer uma tomografia e tinha aumentado, um pouco. Me mandou pro cirurgião vascular. Foi ele quem disse que nunca tinha visto aumentar trombo tomando remédio. Mas encontrou uma explicação científica bem viável. Mesmo tendo aumentado, ele disse que era muito pequeno. Que eu podia aguentar sem morrer sufocada durante a noite, porque eu já tinha várias veias periféricas na barriga e nos braços fazendo o trabalho da veia entupida. Aliás, minha barriga está mais parecendo o mapa hidrográfico da Amazônia.... And it sucks... Isso tudo porque a última coisa que os oncologistas gostam de fazer é de tirar o cateter, porque é melhor para eles, não para você, que acorda assustada com o próprio ronco à noite e passa o dia com uma leve sensação de um dedo apertando sua traqueia.

Você, paciente, se sente um pouco enrolado, mas acha que estão fazendo o que é melhor para você e vai em frente.

Um pouco após esse episódio, minha médica achou que uma nova cirurgia no fígado me favoreceria e me mandou para o cirurgião. O cirurgião viu minha cara inchada e... "Que bom que engordou!!!!!" Eu disse que não sabia se tinha realmente engordado muito ou se era tudo por causa da trombose. Ele concordou em operar o fígado, mas primeiro não gostou de operar com trombose, depois disse que operava, depois disse que era um risco, depois disse que operava de novo e falou para que eu voltasse lá depois da viagem. Eu estava para viajar.

Viajei e a trombose começou a me incomodar mais à noite. Não tinha posição para dormir, colocava cada vez mais travesseiros embaixo do pescoço e acordava cheia de dor. Voltei no cirurgião e falei que não aguentava mais a trombose; que eu queria tirar o cateter antes de fazer a cirurgia do fígado. Ele disse que concordava comigo, pois não era muito legal operar com trombose e ligou para a minha médica. Ela concordou. Daí eu fico pensando, se eu não tivesse chegado ao limite da minha paciência, ele me operaria com o risco da trombose mesmo. Quem decidiu tirar o cateter fui eu, somente eu. E bora voltar para o hospital na véspera do Natal.... Delícia...

2015 PRÉ-CIRURGIA



Continuei menstruando, mesmo com a químio (muitas mulheres param) e estava perdendo muito sangue, o que me deu uma anemia severa. Minha médica ficou preocupada e me indicou um ginecologista oncologista do Inca, para ver o que eu tinha e para eu parar de menstruar. Eu não tinha nada além de uma endometriose e ele me deu aquela injeção a fim de parar a menstruação. Mas ele não entendia por que não tinham conseguido tirar o meu pâncreas. Uma pessoa jovem, etc. Daí me indicou o amigo dele, do Inca também, que cuida da parte gastro. Fui no cirurgião gastro e ele também não entendia por que não haviam tirado meu pâncreas e ficou muito animado com o meu caso. Aliás, ele é animadíssimo. Lembro que ele disse que eu ia ficar com uma cicatriz muito bonita, estilo Mercedes Benz. Parece mais o símbolo da paz, só que sem o círculo em volta, claro. Eu tive que parar a químio para ficar forte o bastante para a cirurgia e menos anêmica, e isso tudo, da primeira consulta com ele até o dia da cirurgia, deve ter dado um mês.

A minha primeira grande decepção no hospital foi que a anestesista queria que eu chegasse ao centro cirúrgico a seco, ou seja, sem drogas. Aquilo pra mim foi um choque. Como que eu ia passear pelo hospital na maca, entrar no centro cirúrgico a seco, sem tomar drogas? A anestesista disse que assim a recuperação seria mais rápida. Para mim, pouco importava a recuperação, eu queria era tomar drogas pesadas. Cheguei ao centro cirúrgico e me fizeram um monte de perguntas na entrada, tipo seu nome, o que você está fazendo ali... Não sei por que, deve ser para não te colocarem na sala errada e operarem seu ouvido em vez do pâncreas. Eu comecei a chorar desesperadamente. Daí um cirurgião que estava na sala ao lado veio me consolar, disse que ia dar tudo certo. E eu chorava cada vez mais. A anestesista foi me acalmar perguntando onde eu trabalhava. Respondi, Fiocruz, e soluçava, aos prantos. Daí ela me mandou contar até dez. Eu não me lembro nem do um.

Acordei na UTI não sei se é porque era fim de ano, quase Natal ou se é procedimento de rotina, mas te tratam que nem um pedaço de carne inconsciente. Eles te dão os remédios, dão banho, trocam sua fralda, como se você não estivesse realmente ali, ou como se estivesse desacordado. Tipo, "até que dar banho nessa garota nem é tão ruim... Vai dar banho num velho gordo e pesado.... " Num dia eu precisava que mudassem a minha fralda. A técnica de enfermagem demorou meia hora para aparecer. Quando chegou disse que não ia trocar porra nenhuma, porque uma fralda aguentava dois xixis e até três. E você, operada, não consegue se mexer, cheia de tubo, vai reclamar de alguma coisa?

Já no quarto, era um sufoco cada vez que precisavam trocar o acesso. Um suplício. Os caras só fazem isso na vida e não conseguem acertar a porra de

uma veia de primeira. E ainda botam a culpa na sua veia que é ruim. Eu tomava a injeção de anticoagulante para não ter trombose. Um dia veio uma técnica com umas unhas assustadores de quase um metro cada, pintadas de vermelho. Ela ficou puta porque não conseguia pegar barriga suficiente para dar a injeção, então ela espremeu um pouco de barriga com as unhas para conseguir enfiar a agulha.

Quando você vai para o quarto depois de uma cirurgia dessa magnitude, a coisa que você mais quer é se livrar de todos os tubos, principalmente do da alimentação. A coisa que você mais quer é se alimentar via oral novamente. Depois que você finalmente consegue, a primeira coisa que te perguntam é se já peidou. Na primeira manhã depois de ter começado a alimentação pela boca, e depois de já ter peidado, o médico pergunta se já cagou. Daí você está pensando que o médico ficará satisfeito se você disser que sim, mas não, ele volta todo dia e pergunta a mesma coisa, só que com a diferença que agora pergunta como estão as fezes. Como assim? Estão bem obrigada, mas você tem que dizer se elas boiam, se flutuam, se estão escuras, claras, duras, moles, com uma consistência boa... Definitivamente, o cu é o centro do universo, não tenho dúvidas. Quando você sai do hospital continuam perguntando pelas suas fezes. Você chega na nutricionista e ela não pergunta se você está bem, ela pergunta como estão as fezes. Não é a toa que os gatos quando estão felizes levantam o rabo e te mostram o cu. Os cachorros quando querem se conhecer mostram o cu um pro outro e cada um dá uma lambida no fiofó do outro. Se o gosto estiver ruim, acabou amizade. Se você fecha a porta do quarto e seu gato fica puto, quando você abrir a porta de manhã estará lá um cocô de presente. A vida gira em torno do cu e do que sai dele.