terça-feira, 13 de dezembro de 2016

2015 PRÉ-CIRURGIA



Continuei menstruando, mesmo com a químio (muitas mulheres param) e estava perdendo muito sangue, o que me deu uma anemia severa. Minha médica ficou preocupada e me indicou um ginecologista oncologista do Inca, para ver o que eu tinha e para eu parar de menstruar. Eu não tinha nada além de uma endometriose e ele me deu aquela injeção a fim de parar a menstruação. Mas ele não entendia por que não tinham conseguido tirar o meu pâncreas. Uma pessoa jovem, etc. Daí me indicou o amigo dele, do Inca também, que cuida da parte gastro. Fui no cirurgião gastro e ele também não entendia por que não haviam tirado meu pâncreas e ficou muito animado com o meu caso. Aliás, ele é animadíssimo. Lembro que ele disse que eu ia ficar com uma cicatriz muito bonita, estilo Mercedes Benz. Parece mais o símbolo da paz, só que sem o círculo em volta, claro. Eu tive que parar a químio para ficar forte o bastante para a cirurgia e menos anêmica, e isso tudo, da primeira consulta com ele até o dia da cirurgia, deve ter dado um mês.

A minha primeira grande decepção no hospital foi que a anestesista queria que eu chegasse ao centro cirúrgico a seco, ou seja, sem drogas. Aquilo pra mim foi um choque. Como que eu ia passear pelo hospital na maca, entrar no centro cirúrgico a seco, sem tomar drogas? A anestesista disse que assim a recuperação seria mais rápida. Para mim, pouco importava a recuperação, eu queria era tomar drogas pesadas. Cheguei ao centro cirúrgico e me fizeram um monte de perguntas na entrada, tipo seu nome, o que você está fazendo ali... Não sei por que, deve ser para não te colocarem na sala errada e operarem seu ouvido em vez do pâncreas. Eu comecei a chorar desesperadamente. Daí um cirurgião que estava na sala ao lado veio me consolar, disse que ia dar tudo certo. E eu chorava cada vez mais. A anestesista foi me acalmar perguntando onde eu trabalhava. Respondi, Fiocruz, e soluçava, aos prantos. Daí ela me mandou contar até dez. Eu não me lembro nem do um.

Acordei na UTI não sei se é porque era fim de ano, quase Natal ou se é procedimento de rotina, mas te tratam que nem um pedaço de carne inconsciente. Eles te dão os remédios, dão banho, trocam sua fralda, como se você não estivesse realmente ali, ou como se estivesse desacordado. Tipo, "até que dar banho nessa garota nem é tão ruim... Vai dar banho num velho gordo e pesado.... " Num dia eu precisava que mudassem a minha fralda. A técnica de enfermagem demorou meia hora para aparecer. Quando chegou disse que não ia trocar porra nenhuma, porque uma fralda aguentava dois xixis e até três. E você, operada, não consegue se mexer, cheia de tubo, vai reclamar de alguma coisa?

Já no quarto, era um sufoco cada vez que precisavam trocar o acesso. Um suplício. Os caras só fazem isso na vida e não conseguem acertar a porra de

uma veia de primeira. E ainda botam a culpa na sua veia que é ruim. Eu tomava a injeção de anticoagulante para não ter trombose. Um dia veio uma técnica com umas unhas assustadores de quase um metro cada, pintadas de vermelho. Ela ficou puta porque não conseguia pegar barriga suficiente para dar a injeção, então ela espremeu um pouco de barriga com as unhas para conseguir enfiar a agulha.

Quando você vai para o quarto depois de uma cirurgia dessa magnitude, a coisa que você mais quer é se livrar de todos os tubos, principalmente do da alimentação. A coisa que você mais quer é se alimentar via oral novamente. Depois que você finalmente consegue, a primeira coisa que te perguntam é se já peidou. Na primeira manhã depois de ter começado a alimentação pela boca, e depois de já ter peidado, o médico pergunta se já cagou. Daí você está pensando que o médico ficará satisfeito se você disser que sim, mas não, ele volta todo dia e pergunta a mesma coisa, só que com a diferença que agora pergunta como estão as fezes. Como assim? Estão bem obrigada, mas você tem que dizer se elas boiam, se flutuam, se estão escuras, claras, duras, moles, com uma consistência boa... Definitivamente, o cu é o centro do universo, não tenho dúvidas. Quando você sai do hospital continuam perguntando pelas suas fezes. Você chega na nutricionista e ela não pergunta se você está bem, ela pergunta como estão as fezes. Não é a toa que os gatos quando estão felizes levantam o rabo e te mostram o cu. Os cachorros quando querem se conhecer mostram o cu um pro outro e cada um dá uma lambida no fiofó do outro. Se o gosto estiver ruim, acabou amizade. Se você fecha a porta do quarto e seu gato fica puto, quando você abrir a porta de manhã estará lá um cocô de presente. A vida gira em torno do cu e do que sai dele.

Um comentário:

  1. Putz...que bosta...mas, faz a Pollyana e agradece por se ver livre dessa porcaria de catéter...fazer o que, né ?
    Boa sorte ! Beijão !!!!

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