quinta-feira, 2 de março de 2017

HERE I GO AGAIN

E vai começar tudo de novo. Dormir mal na noite anterior; esperar a hora da cirurgia em jejum; aguardar ansiosamente a visita do anestesista para ele lhe dizer que você não tomará drogas antes da cirurgia - você já sabe disso, mas sempre há uma esperança-; aguardar a hora de colocarem você na maca; a hora da chegada no centro cirúrgico; a hora que perguntam quem é seu médico e o que você vai operar e, finalmente, a hora de enfiarem a porra de uma agulha na sua mão para colocar a anestesia e, posteriormente, operar suas entranhas. Pausa... Retorno da anestesia na sala de cirurgia, mas como você está doidona, você não realiza que acordou.... Dai desperta na UTI e não sabe exatamente aonde está. Médico fala com você, seus pais falam com você, as pessoas não param de falar e você lá, deitada na cama que nem um bife cheio de tubos.

Desta vez eu vou conhecer a UTI do Copa D'Or, mas deixa eu contar como foi a UTI da São José. Aliás, vou escrever avaliações sobre todos os hospitais em que eu passar, estilo “Trip Advisor”, só que em vez de "tudo sobre viagens" seria mais como um Disease Advisor. Quando ficamos mais velhos ou mesmo novos não tão saudáveis, os assuntos mudam. Não é mais "Qual hotel você ficou quando foi para o Havaí? Trataram você bem lá?, mas, "Qual hospital você ficou quando tiraram o seu pâncreas? A UTI é boa?". Se você estiver na merda mesmo não vai fazer diferença, porque estará desacordado na UTI. Mas na maioria dos casos você estará acordado e tratarão você como um velho de cem anos em coma.

Voltando à UTI da São José, aquilo ali parecia uma zona. Eram técnicos e enfermeiros conversando 24 horas por dia como se não tivessem nada para fazer. E mesmo quando tinham algo para fazer, continuavam conversando, ou reclamando. Por exemplo, estava na hora do meu banho, vinham dois técnicos. Os dois me viravam de um lado para outro como se eu não estivesse realmente ali e ficavam falando mal dos outros, ou reclamando que teriam que trabalhar próximo do Natal ou mesmo reclamando de algum paciente mais gordo que dava mais trabalho na hora do banho. Teve uma técnica que disse que não ia trocar minha fralda e foda-se, eu que fizesse mais um xixi nela e aguentasse. E você, humilhada, de fralda e cheia de tubos, reage como? Pode ter sido a proximidade do Natal a causa do péssimo atendimento, mas eu não desejo para ninguém o que eu passei na UTI da São José, nem para aquela minha ex-amiga que disse que eu morreria rápido e que, portanto, deveria abandonar o tratamento e viajar enquanto ainda me encontrava razoavelmente assintomática.

Depois de quatro ou cinco dias de UTI me mandaram para o quarto. Cheia de tubos ainda e, que eu me lembre, também com as fraldas. Eu não aguentava mais aquele tubo da nutrição parenteral. Uma das piores coisas que há é você não poder se alimentar pela boca. Aquilo eu provavelmente não terei mais. Mas em compensação terei de volta aqueles programas maravilhosos da GNT, principalmente sobre comida, as intermináveis conversas do meu pai sobre astrologia, cabala e astrologia cabalística, aquela comida horrorosa, que você acha maravilhosa depois de dois dias na UTI, os horários para tudo, a falta de privacidade, as visitas, os técnicos e enfermeiros, o passeio no corredor duas vezes por dia com o fisioterapeuta, enfim...Tenho de aprender a me comportar como uma paciente, só não me peçam muita paciência. Até a volta.

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