domingo, 17 de julho de 2016

2014 - Parte II - A 2a opção - O bypass

Logo que cheguei de viagem fui fazer a ultrassonografia. E ela estava lá, a massa tumoral ou qualquer coisa do gênero. Liguei para o meu clínico geral na época, que é oncologista, e ele mandou que me internasse. Fiz vários exames, inclusive uma biópsia, que deu negativa. Depois eu aprendi que é comum dar negativo no caso do pâncreas, mesmo se for positivo. Tudo indicava que eu estava com o tumor na cabeça do pâncreas. Muitos amigos foram me visitar no hospital, uns até eu não encontrava há anos. A situação era bem grave, mas eu nem tinha noção disso tudo, porque a coceira não deixava.
O oncologista indicou um cirurgião geral especializado em bariátrica. Ele chegou a perguntar se minha mãe conhecia algum cirurgião, mas lógico, não conhecíamos. Eu nem soube disso. Na época achei que aquele cirurgião fosse oncologista e especializado em pâncreas.
Minhas amigas mais próximas estavam lá todos os dias. Elas andavam atrás do oncologista fazendo perguntas:
_ Dr., mas o tumor pode ser benigno, né?
E ele: _ não. Não existe tumor benigno. Tumor benigno não é tumor, é outra coisa.
_ Dr., como será a cirurgia? Quais as chances? Dá pra tirar o tumor né?
_ Bom, tem três possibilidades... no melhor cenário, o tumor pode ser retirado. A outra hipótese é que não dê pra retirar. Daí o cirurgião faz um bypass pra desobstruir a cabeça do pâncreas e tirar os sintomas da icterícia. Mas a gente pode também abrir a barriga, ver que não dá pra fazer nada mesmo e fechar...
_ (cri, cri, cri...)

Eu até ouvi isso tudo, mas estava em outro planeta... eu preferia até morrer, se fosse a única maneira de parar a coceira.

Foi feita a cirurgia, não deu pra tirar, mas deu pra fazer o bypass. Quando fui fazer o acompanhamento no consultório do cirurgião descobri que a família inteira é especializada em bariátrica... ainda no hospital resolvi cortar aquele cabelo todo e doar. Minha mãe chamou a cabeleireira e ela foi até lá.

Minha memória está bem ruim, principalmente com relação à ordem dos eventos, mas acho que foi nessa primeira cirurgia, quando ainda estava no hospital, eu estava tomando dois antidepressivos na época – teve uma época que passou pra três, mas acho que isso foi depois – anyway, eu pedi pra tomar os antidepressivos no hospital e esse mesmo médico me perguntou, “precisa disso tudo?”. Eu fiquei sem resposta na hora, mas hoje minha vontade era de ter dito, “é porque não é com você, né cara pálida?”. Como que um ser humano, que decidiu ser médico, não qualquer médico, mas oncologista, não consegue ter o mínimo de compaixão com um paciente e ainda faz piadinha fora de hora?

Voltei pra casa e nada de parar a coceira... fiquei mais um mês sem dormir. Pelo jeito eu estava bem intoxicada de bile.


Veio o resultado da biópsia da cirurgia.... negativa... era setembro ou outubro de 2014... o oncologista continuou acompanhando, porque tem chances de acontecer o falso negativo nesse caso. Eu não tinha mais sintomas, geralmente as pessoas têm muitas dores e enjoos no caso do câncer de pâncreas. Os médicos chegaram a cogitar que fosse uma pancreatite autoimune. 

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