Logo que comecei a quimioterapia, eu pedi à minha chefe para continuar tentando ir ao trabalho e foi uma das melhores coisas que fiz. Por incrível que pareça, aquele era o único momento de sanidade mental que eu tinha durante o dia. Eram os únicos momentos da semana que me sentia uma pessoa normal. O restante da semana era dedicado a oncologista, outros médicos, exames, psicóloga, nutricionista, psiquiatra, academia (enquanto eu ainda não tinha mandado a musculação pro espaço), .... e claro... quimioterapia... que demandava três dias.... no primeiro eu ficava umas 7h na clínica com o remédio no cateter, daí saía com uma bombinha pendurada na cintura e ia na clínica tirar dois dias depois... era uma vida social intensa... e insuportável...
Com relação à transição de médico... foi bem tranquila... esperei dois meses, conforme combinado com minha mãe, e fui na médica nova. Ela me pediu que a avisasse quando eu terminasse a aplicação seguinte para que ela desse entrada no plano de saúde. Na clínica antiga eu avisei que não faria a aplicação seguinte e deixei pra avisar o médico por último. Aliás, nem precisei avisá-lo porque a recepcionista, logo que saí, fofocou pra ele e ele começou a me ligar insistentemente. Eu estava no táxi e não ouvi as ligações. Como eu não atendia às chamadas, ele tentou ligar pra minha mãe (estranho que, quando é do interesse dele ele insiste em ligar e atende telefonemas...). Liguei pra ele quando cheguei em casa e ele perguntou, “aconteceu alguma coisa?”, eu, “não, só resolvi mudar de médico, porque me senti bem confiante com ela”... “o problema não é você, sou eu...” ou alguma coisa do gênero... não lembro exatamente como foi, só lembro que eu não falei a total verdade, ou melhor, omiti motivos... Eu já havia avisado minha mãe que tinha falado com ele, mas ela, não satisfeita, resolveu ligar pra ele e se trancou na cozinha, ou na varanda, não lembro. Mas como a surda é ela e não eu, ainda, eu ouvi partes....
- “Pois é, eu não queria, mas ela estava muito decidida, não havia nada que a fizesse mudar de ideia...”
Não entendo por que tanta satisfação e consideração com um garotão mimado e arrogante com carrão do ano e com princípio de barriga aparentemente alcoólica. Sabe aquela barriguinha calosa que começa a despontar pra fora da calça, mas não ainda pra fora da camisa? Mas o pior é que o garotão é médico e faz piadinha... sem graça...
O cabelo continuava a cair, as cólicas continuavam e os enjoos não eram frequentes.
Outra coisa muito chata de conviver é com a restrição alimentar. Não comer nada cru na rua... o que não é muito bom...eu não gosto de comida japonesa, mas gosto de salada. O problema é que, por estar emagrecendo, eu não podia comer salada em momento algum, nem legumes, nem algumas frutas, porque tudo tem fibra e eu não devia comer fibras. Mas eu podia comer bolo caseiro.... eu nunca gostei de bolo... tentei começar a gostar, mas enjoei. Várias coisas que eu achava que gostava ou que podia gostar acabava enjoando.. batata doce, inhame, caldo de feijão, arroz... qualquer batata..... eu queria comer qualquer fruta e coisas verdes... e chocolate... brincadeira, o chocolate eu comia, mas em pouquíssima quantidade, porque é gordura e eu não digiro gorduras... elas descem direto... Uma coisa eu sei... que não quero mais ver inhame na minha frente... nunca mais....
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